Do Cosmos à Praia
Por Bruno Lampreia in SURFPortugal revista #229 de Fevereiro de 2012.
Apesar do caráter banal que as ondas tendem a assumir no nosso quotidiano, as variáveis envolvidas na sua formação, desde os ventos que sopram sobre os oceanos a milhares de quilómetros de distância à batimetria dos fundos costeiros, são tantas e tão complexas que cada onda surfada, ou simplesmente vislumbrada, deveria merecer a veneração devida aos mais assombrosos fenómenos da natureza. Na rubrica que aqui inauguramos, Bruno Lampreia, meteorologista e surfista de 28 anos, propõe-se justamente desmistificar os diversos elementos que o surf encerra, desconstruindo e ilustrando os conceitos técnicos que tendem a afastar-nos da verdadeira compreensão do funcionamento dos oceanos. Para que, a cada mês, possamos entender um pouco melhor esse fenómeno que ora nos deleita, ora nos aterroriza, mas sempre nos fascina.
Apesar do caráter banal que as ondas tendem a assumir no nosso quotidiano, as variáveis envolvidas na sua formação, desde os ventos que sopram sobre os oceanos a milhares de quilómetros de distância à batimetria dos fundos costeiros, são tantas e tão complexas que cada onda surfada, ou simplesmente vislumbrada, deveria merecer a veneração devida aos mais assombrosos fenómenos da natureza. Na rubrica que aqui inauguramos, Bruno Lampreia, meteorologista e surfista de 28 anos, propõe-se justamente desmistificar os diversos elementos que o surf encerra, desconstruindo e ilustrando os conceitos técnicos que tendem a afastar-nos da verdadeira compreensão do funcionamento dos oceanos. Para que, a cada mês, possamos entender um pouco melhor esse fenómeno que ora nos deleita, ora nos aterroriza, mas sempre nos fascina.
RADIAÇÃO SOLAR
É bem longe do nosso planeta que se reúnem as condições que dão origem às ondas que havemos de surfar. A distância que esses elementos percorrem até chegarem a nós é abissal, começando no sol, cuja a radiação avança sem qualquer resistência até atingir a Terra. Do total dessa radiação, cerca de metade é refletida pela atmosfera, pelas nuvens, oceanos e pela própria Terra de volta ao Universo, o que significa que apenas 50%é absorvido pelo nosso planeta - o suficiente, porém, para sustentar a vida na Terra.
ATMOSFERA VS. HIDROSFERA
A atmosfera é a camada de gases que envolve a Terra, enquanto a hidrosfera é o conjunto de todas as águas do planeta, incluindo os oceanos. São os oceanos que se encarregam de fazer a distribuição de até 1/3 do calor por todo o planeta. Se nas regiões equatoriais temos climas muito quentes e nos Pólos temos gelo, isto deve-se às diferenças de exposição à radiação solar: nas zonas equatoriais o impacto é quase direto, desenhando um ângulo de incidência reto, enquanto que nas zonas polares o ângulo é muito fechado, fazendo com que a energia solar passe quase de "raspão". Estas diferenças de aquecimento provocam gradientes térmicos, ou seja, variações de temperatura em altitude. Nos casos em que o ar quente ascende na atmosfera (ao mesmo tempo que o ar frio desce), gera-se uma componente horizontal de vento do ar frio para o ar quente, correspondendo às chamadas baixas-pressões.
É nas baixas-pressõesque vamos ter tempestades, animadas de ar quente e humidade à mistura, gerando vento intenso - que podem ir de comuns borrascas a furacões devastadores - que, por sua vez, dão origem às ondulações ou swells. Para que estese origine, porém, é ainda necessário que o vento, nessas tempestades, soprem de uma forma consitente e ao longo de uma extensa área marítima, provocando o movimento oscilatório periódico da superfície do mar, o qual se propagará à distância até atingir, em forma de ondas, as nossas praias.
A LUA E AS MARÉS
Outro importante fator para a formação das ondas, também oriundo do Espaço, é a influência da Lua sobre os oceanos, provocando as marés (ver SP#224). São as variações de maré que, a dada altura do dia, estabelecem a altura ideal entre a superfície do mar e o banco de areia, laje de pedra ou coral onde vamos surfar, proporcionando as melhores condições que esse pico pode oferecer.
A Lua proporciona-nos ainda outras fantásticas surpresas: quando se encontra no perigeu (o ponto da sua órbita em que está mais próxima da Terra), por vezes encontra-se tão perto do nosso planeta que proporciona uma maré com valores acima da média, tornando o surf possível em determinados rios, fenómeno científicamente conhecido por onda de maré ou "macaréu", tendo depois várias denominações consoante o local geográfico onde ocorre (na Amazónia chamam-lhe Pororoca, por exemplo).
BRISA TERRESTRE (OU VENTO OFF-SHORE)
Chama-se brisa a um vento próximo da superfície, que tanto pode fazer-se sentir na direção mar-terra (brisa marítima ou on-shore) como no sentido terra-mar (brisa terrestre ou off-shore).
É durante a noite que a brisa terrestre se forma. A capacidade de reter calor por parte do solo é bastante inferior à água, logo, à noite verifica-se um arrefecimento em terra (descida de ar frio à superfície) e a libertação de calor no oceano, gerando ar quente que ascende na atmosfera, "abrindo espaço" e atraindo o ar fresco que entretanto desceu à superfície do solo. É esta corrente de ar no sentido terra-mar, que muitas vezes, se arrasta até ao pico do calor a meio do dia, que os surfistas comumente chamam de vento "off-shore". Graças a ele, a nossa onda vai retardar um pouco a sua rebentação e crescer mais uns centímetros em tamanho.
E QUAL A IMPORTÂNCIA DISTO?
Estas curtas explicações servem de introdução ao complexo mundo da meteorologia, cuja compreensão ultimamente irá abrir caminho para que nós possamos determinar com maior objetividade e precisão onde, como e quando as nossas ondas preferidas estarão a funcionar nas melhores condições. Se se diz que cada surfista encerra em si um meteorologista em potencial, vamos então tirar esse homem do tempo cá para fora e, pelo caminho, perceber como ao apanhar cada onda tornamo-nos parte de um fenómeno galáctico que levou milhões e milhões de quilómetros a chegar até nós.
É nas baixas-pressõesque vamos ter tempestades, animadas de ar quente e humidade à mistura, gerando vento intenso - que podem ir de comuns borrascas a furacões devastadores - que, por sua vez, dão origem às ondulações ou swells. Para que estese origine, porém, é ainda necessário que o vento, nessas tempestades, soprem de uma forma consitente e ao longo de uma extensa área marítima, provocando o movimento oscilatório periódico da superfície do mar, o qual se propagará à distância até atingir, em forma de ondas, as nossas praias.
A LUA E AS MARÉS
Outro importante fator para a formação das ondas, também oriundo do Espaço, é a influência da Lua sobre os oceanos, provocando as marés (ver SP#224). São as variações de maré que, a dada altura do dia, estabelecem a altura ideal entre a superfície do mar e o banco de areia, laje de pedra ou coral onde vamos surfar, proporcionando as melhores condições que esse pico pode oferecer.
A Lua proporciona-nos ainda outras fantásticas surpresas: quando se encontra no perigeu (o ponto da sua órbita em que está mais próxima da Terra), por vezes encontra-se tão perto do nosso planeta que proporciona uma maré com valores acima da média, tornando o surf possível em determinados rios, fenómeno científicamente conhecido por onda de maré ou "macaréu", tendo depois várias denominações consoante o local geográfico onde ocorre (na Amazónia chamam-lhe Pororoca, por exemplo).
Chama-se brisa a um vento próximo da superfície, que tanto pode fazer-se sentir na direção mar-terra (brisa marítima ou on-shore) como no sentido terra-mar (brisa terrestre ou off-shore).
É durante a noite que a brisa terrestre se forma. A capacidade de reter calor por parte do solo é bastante inferior à água, logo, à noite verifica-se um arrefecimento em terra (descida de ar frio à superfície) e a libertação de calor no oceano, gerando ar quente que ascende na atmosfera, "abrindo espaço" e atraindo o ar fresco que entretanto desceu à superfície do solo. É esta corrente de ar no sentido terra-mar, que muitas vezes, se arrasta até ao pico do calor a meio do dia, que os surfistas comumente chamam de vento "off-shore". Graças a ele, a nossa onda vai retardar um pouco a sua rebentação e crescer mais uns centímetros em tamanho.
E QUAL A IMPORTÂNCIA DISTO?
Estas curtas explicações servem de introdução ao complexo mundo da meteorologia, cuja compreensão ultimamente irá abrir caminho para que nós possamos determinar com maior objetividade e precisão onde, como e quando as nossas ondas preferidas estarão a funcionar nas melhores condições. Se se diz que cada surfista encerra em si um meteorologista em potencial, vamos então tirar esse homem do tempo cá para fora e, pelo caminho, perceber como ao apanhar cada onda tornamo-nos parte de um fenómeno galáctico que levou milhões e milhões de quilómetros a chegar até nós.