Ondas - Parte II "A Origem das Ondas"

A Origem das Ondas
Parte II - esta é a segunda parte de um artigo (Ondas - Parte I "Génesis"), se ainda não leste a primeira parte, clica aqui.

Por Bruno Lampreia in SURFPortugal revista #231 de Abril de 2012. 



Na edição anterior, analisámos a génese das ondas em Portugal, explicando como e onde se formam as baixas-pressões que dão origem aos swells que constantemente atingem a nossa costa e descrevendo como se comporta o oceano sob o efeito dessas mesmas tempestades. Agora, importa perceber como é que as ondulações escapam àquelas “máquinas de lavar”, dando origem às ondas (umas vezes mais perfeitas do que outras) que todos os dias surfamos, sem sequer nos questionarmos de onde vêm.

Da tempestade à bonança
As vagas originadas pela tempestade (baixa-pressão) vão inevitavelmente transgredir a zona tempestiva, ultrapassando em velocidade e progressão a intempérie atmosférica. Fora desta área genesíaca, deixa de haver transmissão de energia dos ventos turbulentos para o oceano, pelo que a velocidade, comprimento e período de onda se mantém inalterados. Em consequência, as ondas com maiores períodos (tempo entre duas cristas de onda) vão destacar-se na frente do swell, pois quanto maior o período, maior o comprimento de onda e a sua velocidade.

Ordem no mar
O mar caótico evolui, assim, para um mar ordenado, já fora do alcance e efeito da tempestade originada pela baixa-pressão. Nesta “nova ordem”, as ondas agrupam-se por períodos (maiores à frente), dando origem a um grupo na dianteira a que vamos chamar “swell novo”. Este grupo é composto pelas maiores ondas, que são também as primeiras a chegar às nossas praias. Seguem-se as ondas mais pequenas e menos espaçadas entre si, a cujo agrupamento chamaremos “swell velho”.

Este conjunto de ondas viaja mais lentamente e com uma maior cadência, isto é, com períodos menores teremos as ondas muito próximas umas das outras, retratando uma sessão de sobe e desce até ao outside e individualmente, a onda do swell velho será menos comprida e terá menor impacto na sua chegada à praia, como veremos na próxima edição.

O swell ideal


A situação mais favorável ao surf na costa Oeste de Portugal Continental é quando se verifica um anticiclone de bloqueio. Conceito oposto ao das baixa-pressões (ver SP#230), um anticiclone (ou centro de altas-pressões) é uma área onde o ar desce (em espiral) à superfície, suprimindo os movimentos de ar ascendentes necessários à formação de nuvens e precipitação.

Bom tempo (seco e sem nuvens) está normalmente associado aos anticiclones (quente e seco no verão e frio com céu limpo no inverno). Um anticiclone de bloqueio é, pois, aquele que impede as tempestades de “varrerem” o território continental, deflectindo-as, mais para Norte, oferecendo aos Britânicos aquele fabuloso clima (mais um pouco de mau tempo para a estatística).


Mas nem todos os Portugueses se ficam "a rir", pois o Anticiclone (frequentemente) ou se encontra sobre os Açores ou sobre Portugal Continental, proporcionando praticamente boas condições à vez.
Nesta situação modelo, o anticiclone de bloqueio que influencia o tempo e as ondas no Continente localiza-se ligeiramente a Norte da Península Ibérica, proporcionando-nos um vento fraco de Leste (offshore na costa Oeste). Este anticiclone, apesar de desviar as tempestades ao largo da costa portuguesa, não desvia o swell por elas provocado, permitindo que este se propague até às nossas praias, com tempo e espaço suficientes para chegar organizado.

Geralmente, esta configuração meteorológica ocorre no verão, verificando-se apenas ocasionalmente no inverno (embora neste inverno, claramente atípico, se tenha observado uma predominância deste fenómeno bastante acima da média).

Estatisticamente, a conjunção destes dois fenómenos – os swells originados pelas baixas-pressões ao largo da costa Leste dos EUA (ver SP#230) com o anticiclone de bloqueio localizado a Norte da Península Ibérica – provoca em média uma ondulação na ordem dos 1,5m-2m de Noroeste a Oeste, com cerca de 14 segundos de período. O swell ideal, portanto, “limpo” e com offshore, sem os efeitos de desorganização no mar decorrentes do mau tempo geralmente provocado pelas baixas-pressões.



A importância de uma boa previsão
Posto isto, torna-se evidente a importância de uma boa previsão  nomeadamente da antecipação da chegada do “swell novo”, pois quem apanhar este primeiro conjunto de ondas vai certamente beneficiar das melhores condições. Os menos atentos acabarão a surfar ondas provenientes de um “swell velho”, ou seja, mais pequenas e com menos força.

No surf, é fundamental sermos os primeiros, sabermos onde e quando o swell vai chegar nas melhores condições, para que aquilo a que se convencionou chamar “sessão clássica” deixe de ser uma quimera apenas acessível a alguns. Para tal, basta fazermos da leitura de cartas um ritual do nosso dia-a-dia, prestando especial atenção às cartas de pressão à superfície (para verificarmos a ocorrência ou não de uma situação semelhante à acima enunciada), bem como uma atenta análise das cartas de altura significativa das ondas, geradas por modelos de previsão de ondulação, prestando atenção à hora de chegada de swell e com o aproximar desse momento devemos redirecionar a nossa atenção para os dados emitidos pelas boias. Mal estas registem a ocorrência da ondulação que aguardávamos está na hora de rumar à praia.

Para surfar um swell no auge da sua qualidade, há ainda um último elemento a considerar, tão determinante quanto os anteriores: a escolha da praia certa. Na verdade, é preciso conhecermos bem as nossas praias e termos em conta toda uma série de alterações que a ondulação sofre mal as ondas “sentem” o fundo do mar ao aproximarem-se da costa. Tema que iremos abordar e dissecar na próxima edição da SURFPortugal.